PASTORES DA IGREJA PRIMITIVA

A entrega a Cristo de todos os primeiros cristãos da igreja primitiva reflete a qualidade de seus líderes. A maioria das igrejas evangélicas de hoje em dia estão governadas por um pastor em união com uma junta de anciãos e uma junta de diáconos. Normalmente, o pastor teve sua preparação profissional ou até recebeu seu título de seminário, mas não foi criado na igreja que o chama a ser pastor. Com freqüência não tem nenhum poder de governar na igreja exceto o poder da persuasão.

A junta de anciãos ou a de diáconos, pelo geral, forma-se de homens que trabalham uma jornada completa em empregos seculares. Administram os programas e os assuntos financeiros da igreja e muitas vezes fixam até a política da igreja. Mas de costume ninguém corre a eles para receber conselhos espirituais. Não são os pastores do rebanho espiritual. Sim, usamos os mesmos nomes para os líderes da igreja como os que usavam os primeiros cristãos. Falamos de anciãos e de diáconos. Mas em realidade o método de governar nossas igrejas difere muito do método das igrejas primitivas. Não tinham um pastor preparado profissionalmente, entre eles
todos os anciãos eram pastores que dedicavam seu tempo à obra da igreja. O ancião maior em idade ou talvez o mais capacitado presidia entre os demais. Geralmente lhe chamavam bispo ou supervisor da congregação. Nem o bispo nem os anciãos eram desconhecidos, trazidos à congregação de outra parte. Normalmente tinham passado muitos anos na congregação. Todos conheciam seus pontos fortes e também seus pontos magros.

Ademais, não se preparavam para servir como bispos ou anciãos por meio do estudar num instituto bíblico, seminário ou faculdade teológica. A congregação não procurava tanto por ciência senão por uma espiritualidade profunda. Perguntavam, principalmente: Tinham dado já por anos um bom exemplo a outros cristãos? Estavam dispostos até a dar sua vida por Cristo? Como Tertuliano disse aos romanos: “Nossos anciãos são homens provados. Obtêm sua posição não por um salário, senão por firmeza de caráter”.

Naquele tempo não haviam seminários. Um homem aprendia o necessário para servir como presbítero com os anciãos  mais antigos e de mais experiência. Aprendiam como estar com Deus e pastorear na igreja por observar e imitar exemplo daqueles. Recebiam a experiência prática guiados por eles, e não tinham que fazer tudo perfeitamente. Tinham que ser capazes de ensinar por meio do exemplo pessoal tanto como por meio de sua palavra. De outra maneira não seria chamado jamais para ser presbítero.

Lactâncio explicou a diferença entre os mestres cristãos e os pagãos assim:

“Falando daquele que ensina os fundamentos da vida e molda a vida de outros, faço a pergunta: ‘Não é necessário que ele mesmo viva de acordo com os fundamentos que ensina?’ Se não vive de acordo com o que ensina, seu ensino resulta nula. Seu aluno lhe contestará assim: ‘Não posso fazer o que você me ensina, porque é impossível.  Ensina-me a não cobiçar. Ensina-me a não olhar o luxo. Ensina-me a não temer o sofrimento e a morte. Mas tudo isto está muito contrário à natureza. Todos os homens sentem estes desejos. Se você está convicto de que é possível viver contrário aos desejos naturais, primeiro permita-me ver seu exemplo para que eu saiba que em verdade é possível.’. Como poderá [o mestre] tirar este pretexto dos obstinados, a não ser com seu exemplo? Só assim poderão seus alunos ver com seus próprios olhos que o que ensina é em verdade possível. É por isso mesmo que ninguém vive de acordo com os ensinos dos filósofos. Os homens preferem o exemplo a só palavras, porque fácil é falar — mas difícil atuar”.

Numa de suas cartas, Cipriano descreve a maneira em que as igrejas primitivas escolhiam a um novo ancião
(na Igreja primitiva, ancião, bispo e presbítero eram termos intercambiáveis): “Será escolhido na presença de todos, sob a observação de todos, e será provado digno e capaz pelo juízo e depoimento de todos. Para ter uma ordenação apropriada, todos os bispos das demais igrejas da mesma província devem reunir-se com a congregação. O bispo deve ser escolhido na presença da congregação já que todos conhecem a fundo sua vida e seus hábitos”.

Uma vez escolhido um ancião pelo geral ficava nessa congregação por toda sua vida, a não ser que a perseguição lhe obrigasse a transladar-se a outra parte. Não servia uns três ou quatro anos só para transladar-se a outra congregação maior onde lhe podiam pagar melhor. E como disse anteriormente, não só o bispo senão bem mais todos os anciãos dedicavam todo seu tempo a seu trabalho como pastor e mestre. Dedicavam-se totalmente ao rebanho. Esperava-se do que deixassem qualquer outro emprego, a não ser que a congregação fora muito pequena como para sustentá-los.

Cópias de várias cartas enviadas entre duas congregações quando surgiu a pergunta de que fazer quando um ancião foi nomeado como executor testamentário no testamento de um cristão defunto. Sob a lei romana, não tinha saída para o que foi nomeado como executor testamentário.Tinha que servir, quisesse ou não quisesse. E o trabalho podia exigir muito tempo. O ancião que escreveu a carta se escandalizou de que um cristão nomeasse a um ancião como executor testamentário, porque esses deveres lhe tirariam o tempo de sua obra como pastor. De fato, todos os anciãos se escandalizaram.

Imagine-se o cuidado espiritual que receberam os primeiros cristãos de seus pastores. Cada congregação de então tinha vários presbíteros cuja única preocupação era o bem-estar espiritual de sua congregação. Com tantos pastores trabalhando o tempo todo na congregação, cada membro sem dúvida recebeu o máximo de atendimento pessoal.

Mas para servir como presbítero na igreja primitiva, um homem tinha que estar disposto a deixar tudo por Cristo. Primeiro deixava suas posses materiais. Deixava seu emprego e o salário com que sustentava a sua família. E não o deixava para depois receber um bom salário da congregação. De jeito nenhum. Só os hereges pagavam um salário a seus pastores. Nas igrejas primitivas os anciãos recebiam o mesmo que recebiam as viúvas e os órfãos. Usualmente, recebiam as coisas necessárias para a vida, e muito pouco mais.

Mas sacrificavam esses anciãos mais do que só as coisas materiais do mundo. Tinham que estar dispostos de ser os primeiros em sofrer encarceramentos,  torturas, e até a morte. Muitos dos escritores que cito neste livro eram anciões ou bispos, e mais da metade deles sofreram o martírio: Ignácio, Policarpo, Justino, Hipólito, Cipriano, Metodio, e Orígenes. Com tal entrega de parte de seus líderes, não é difícil ver por que os cristãos ordinários dessa época se dedicaram a estar com Deus e a evitar a norma do mundo.

FONTE: Blog A Igreja Primitiva 

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