O PESO INSTITUCIONAL DA CGADB (PARTE I E II)

(Parte I) A Administração é uma ciência antiga, renova-se, porém, ao longo do tempo, acompanhando as tendências micro e macroambientais. De uma casa à maior empresa do mundo, de uma pequena Prefeitura do interior ao Governo Federal, desprezar seus princípios pode ser fatal. Um deles é a análise organizacional, incluída em seu bojo o peso institucional da organização.Sim, a Igreja também é uma organização, plena de direitos e deveres. Ainda que sob os mandamentos divinos, ela não se furta à representar e representar-se a si mesma.

Esse prólogo é apenas para prover um pano de fundo para o assunto a ser tratado: o peso institucional da CGADB. Talvez, alguns dos ministros a ela filiados não percebam, mas a Convenção Geral é (ou deve ser) o espelho, o catalisador e o indutor de processos Brasil afora. Tomemos por base qualquer pressuposto. Por exemplo, o nepotismo barato, no qual filhos e parentes sem qualificação são alçados a postos de comando, APENAS e SOMENTE, por indicação de um superior hierárquico. Se as regras de governança corporativa não forem claras o suficiente para determinar que é a capacidade o fator fundamental das escolhas, se os processos de promoção e alocação de gestores não for meritório, então as possibilidades se alargam e se relaxam a tal ponto que QUALQUER UM é colocado em QUALQUER POSTO. É necessário lembrar que é possível a um filho suceder seu pai ou um parente ser colocado num determinado posto, DESDE QUE ele reúna as condições intelectuais, meritórias e, no caso da Igreja, espirituais para tal! Caso contrário, a baderna se instaura. Não sei das qualificações dos filhos do atual presidente, dou-lhes o benefício da dúvida, mas, sem ilações, a realidade assembleiana é que Brasil afora estão sendo alçados aos postos mais elevados (financeiramente, inclusive) filhos e parentes de lideranças, espelhados na prática da CGADB.

Desviando desta questão circunstancial, temos problemas muito maiores. Na última linha do primeiro parágrafo falávamos que a CGADB deve representar e representar-se. Como isto é feito? Ocupando os espaços que a sociedade dispõe. Lembrando que muitos desses espaços são ocupados através de exigências impostas pelo crescente número de membros de nossa denominação e por influências do ambiente no qual convivemos. Ou seja, algumas demandas não são procuradas, mas impostas pelos desafios de nosso tempo.

Aqui há dois caminhos paralelos a ser seguidos. A instituição assume os desafios e se coloca à altura, mesmo com alguma dificuldade, ou se omite e surgem as sub-representações possíveis. Há alguns fatos que demonstram que a segunda opção já foi seguida há algum tempo. Enumeremos os mesmos começando por problemas intestinos. O que dizer, por exemplo, das diversas igrejas erguidas ao bel-prazer de alguns pastores que colocam o nome Assembléia de Deus, com ou sem aposto, em sua fachada? Passando com esta postura a utilizar-se do peso institucional sem efetivamente estar ligada à Convenção Geral? Registre-se que algumas dessas igrejas se subordinam a lideranças auto-proclamadas, oriundas de um descontentamento local, não raro surgidas nos fundos de suas próprias casas. A CGADB não resolve o problema e a repercussão é a mais folclórica possível. Basta focar os nomes das tais igrejas.

Uma instituição forte trataria de resguardar a marca, o título e eventuais apostos que buscassem uma associação implícita ou explícita. Os problemas seriam inúmeros, argumentam alguns. É verdade, mas é o custo da representação. Se você quer ser alguém, terá dificuldades. Do contrário, será ninguém e um outro te representará quando necessário. Não há solução fácil para este problema. O que há é a necessidade de evitar essa verdadeira chafurdação de um nome com peso histórico inegável. Só podemos resolver isto assumindo o ônus de nos expor.

Outro exemplo da dificuldade que temos neste aspecto diz respeito às demandas impostas por temas sociais sensíveis, nos quais formos chamados a opinar ou apresentar nossa posição. O STF, por exemplo, abriu um debate sobre o aborto. Toda sociedade foi convidada, aliás. Como expressão da maioria evangélica brasileira, era de se esperar que a CGADB, através da presidência, expusesse seus argumentos, ao menos por escrito. Mas assistimos pasmados ao Bispo Edir Macedo, da Igreja Universal do Reino de Deus, expor argumentos anti-bíblicos e ainda nos representar! Foi assim com a Lei da Homofobia, da Palmada, do Plano Nacional de Direitos Humanos em suas várias versões e de inúmeros outros temas. É claro que o presidente em pessoa não poderia fazer a defesa de todos os temas que surgem, mas que se conhecesse, ao menos em linhas gerais, o que pensamos a respeito deles. Há tantos assessores, diretorias e departamentos, não é mesmo? Um deles poderia fazer isso, certamente.

A terceira vertente é a dos modismos teológicos, tão presentes em igrejas ditas assembleianas. Grandes eventos aderem a estas bizarrices e as divulgam como se inspiradas fossem, sem qualquer apuração da área de apologética da CGADB. Quando as há, nenhuma punição efetiva é aplicada. E nem incluímos os ministérios de fachada e as congregações de fundo de quintal... Aliás, uma das razões da fundação de novas denominações disfarçadas de Assembléia de Deus é justamente o desajuste espiritual de seus líderes. Teologias fartamente reprovadas nos periódicos da CPAD são toleradas de forma leniente no dia a dia das congregações, ministérios e convenções.

(Parte II) No post de abertura deste assunto abordamos algumas dificuldades da atual gestão em fazer valer o peso institucional da CGADB, resguardando-a de aproveitadores e modismos, através da representação adequada. Continuaremos o assunto abordando um tema espinhoso e necessário: a personalização da instituição. Todos sabemos que qualquer organização tem sempre um fundador, que se torna, por vezes, a representação dela. Essa postura tem um lado bom, ao menos nos primeiros anos. Porém, a catalisação das atenções de forma personalista acaba por circunscrever e empoderar demais uma só pessoa, tornando a organização vulnerável, ora aos humores de alguém, ora à sua cosmovisão, ora à sua finitude, etc. Personalizar também restringe energia, criatividade, inovação e interação.

Li uma entrevista com Ted Turner, lendário fundador da CNN e outras empresas, na qual ele conta algo a respeito. Chegou a um ponto em sua corporação que ele tinha reunido os melhores profissionais dos quatro cantos do mundo, mas todas as decisões dependiam dele. Nas empresas americanas a configuração da estrutura de poder é bem diferente da maioria das brasileiras. Lá há um conselho de administração, que, pasmem, decidiu pela retirada de Turner, o próprio dono, do comando das decisões. A princípio o mesmo relutou: Como podem estes meninos que eu contratei me darem um golpe!? Meses depois sua empresa havia dobrado de tamanho. Qual o milagre? Seus contratados tinham uma forma de pensar mais adequada aos novos tempos e Ted estava atrapalhando a colocação das idéias em prática.

Do ponto de vista eclesiástico, podemos pensar sobre o assunto aqui mesmo no Brasil. O raciocínio é simples: Quem é o presidente da Igreja Presbiteriana? Não obstante haver inúmeros templos da denominação no Brasil, a maioria de nós teria de recorrer ao Google! Por que isso ocorre? Porque não há tanta personalização como em nossas igrejas. Vamos avançar? Quem é o presidente da Igreja Batista? Teríamos de percorrer o mesmo caminho para descobrir! As diferenças são resquícios da estrutura de poder montada nos primórdios de nossa denominação no Brasil. A transição nada fácil dos suecos para os brasileiros. A tomada de poder em 1930. E outros fatos que teimam em repercutir. Para que tenhamos uma pálida idéia de como as coisas funcionaram, nos países hispânicos a Assembléia de Deus foi implantada a partir dos EUA, e há eleições para a escolha de pastores nas congregações à moda batista, desde o século passado!

Mas, um dos grandes males da personalização é quando o líder começa a tomar decisões erradas, arrastando a organização para lugares aonde a maioria jamais desejaria estar. Com o agravante de muitas vezes fazê-lo em nome de Deus. Poderíamos citar inúmeros exemplos, desde a política partidária ao enriquecimento incompatível com a renda. Mas nossos leitores saberão, cremos, fazer as associações adequadas. Nosso alvo não é atacar pessoas, mas fazer com que pensemos numa instituição forte. Para isto, bem ou mal, temos que pensar mais na Assembléia de Deus que em qualquer nome. Podem até não concordar, mas grande parte dos problemas se situam aqui.

Permitindo Deus, continuaremos mais adiante.

POSTADO POR: Pastor Daladier Lima em TERCEIRAVIA
   

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