Meus
filhos, novamente estou sofrendo dores de parto por vossa causa, até que Cristo seja formado em vós...- Gálatas 4:19
Outros têm
submergido em múltiplos projetos de trabalhos de serviço social. Mas quando o
ardor de ajudar aos outros esfriou por um tempo, eles perceberam que todos os
seus esforços hercúleos deixaram poucas marcas duradouras em sua vida interior.
De fato, isso os deixa mais doloridos: frustração, raiva e amargura.
Ainda existem
os que possuem uma prática teológica que não permite um crescimento espiritual.
De fato eles deveriam ver isto como uma coisa ruim. Havendo sido salvos pela
Graça, essas pessoas têm ficado paralisadas nisso. A tentativa de qualquer
progresso espiritual tem um sabor de “obras de retidão” para eles. Sua liturgia
diz que eles pecam em palavras, pensamentos e atitudes diárias, então eles
pensam ser esse seu destino até morrerem. O Céu é o seu único alívio nesse
mundo de pecado e rebelião. Consequentemente, essas pessoas bem intencionadas
vão sentar em seus bancos na igreja e, um ano depois vão perceber que nenhum
avanço foi feito em suas vidas com Deus.
Enfim, um
mal-estar geral nos toca a todos. Refiro-me ao modo como nos acostumamos
completamente com a normalidade de disfunção. A constante exploração da mídia
em relação aos escândalos, vidas partidas e mazelas de toda sorte nos deixa não
muito mais do que simplesmente chateados. Temos que esperar um pouco mais do
que isso, ao menos de nossos líderes religiosos – talvez, especialmente de
nossos líderes. Esta disfunção é tão infiltrada em toda a parte que é quase
impossível termos uma visão clara do progresso espiritual. Modelos exuberantes
de santidade são raros hoje em
dia. Ecoando através dos séculos até os dias de hoje, estão
inúmeras testemunhas que nos contam sobre uma vida muito mais abundante,
profunda e completa. Em qualquer posição social ou em qualquer situação da
vida, eles encontraram uma vida de “retidão, paz e alegria no Espírito Santo”
(Romanos 14:17). Eles descobriram que uma transformação real, sólida à imagem
de Cristo, é possível.
Eles
testemunham para a formação de um caráter quase espantoso. Eles têm visto suas
paixões egocêntricas darem lugar a um coração abnegado e humilde, que assusta
até a eles mesmos. Raiva ódio e malícia são substituídas por amor, compaixão e
boa vontade total.
Há mais de
2.000 anos de registros das vidas de grandes pessoas – Agostinho, Francis,
Teresa, Kempis e muitos outros que, após seguiram arduamente nos caminhos de
Jesus, tornando-se pessoas com um caráter ilibado. Os registros estão aí para
quem quiser ver.
Há trinta
anos, quando a Celebration
of Discipline (Celebração da Disciplina) foi escrita, nós
enfrentamos duas grandes incumbências: a primeira é que foi preciso rever a
grande discussão sobre a formação da alma; a segunda foi encarnar esta
realidade nas experiências diárias na vida individual, congregacional e
cultural. Francamente, nós temos tido sucesso com a primeira tarefa. Todos os
tipos de cristãos agora sabem da necessidade de formação espiritual, e olha
para santos católicos, ortodoxos e protestantes para guiá-los
Mas é a
segunda tarefa que precisa consumir a parte principal de nossa energia nos
próximos 30 anos. Se nós não fizermos um progresso real nessas frentes, todos
os nossos esforços vão evaporar e secar.
Um lembrete
honesto antes de começar pra valer: a formação espiritual não é um kit de
ferramentas para “consertar” a nossa cultura ou as nossas igrejas ou mesmo as
vidas individualmente. Nós temos que trabalhar a formação espiritual porque
este é o trabalho do Reino. Ele está bem no centro do mapa do Reino de Deus. Consequentemente, todos os demais problemas nós prazerosamente deixamos nas
mãos de Deus.
Trabalhar
o coração – Deus
tem dado a cada um de nós a responsabilidade de “crescer em Graça” (II Pedro
3:18). Isto não é algo que possamos transferir para os outros. Nós temos que
tomar as nossas cruzes individuais e seguir os passos do Cristo crucificado e
ressurreto.
Todo trabalho
de formação autêntico é “trabalhar o coração”. O coração é a fonte de toda ação
humana. Todos os mestres religiosos constantemente nos chamam, quase de forma
enfadonha, para que nos voltemos e purifiquemos os nossos corações. Os grandes
sacerdotes Puritanos, por exemplo, mantiveram a atenção nisto. Em Mantendo o Coração, John
Flavel, um puritano inglês do século 17 adverte que “a maior dificuldade na
conversão é ganhar o coração para Deus; e a maior dificuldade após a conversão
é manter o coração com Deus... Trabalhar o coração é um trabalho realmente
difícil”.
Quando
estamos trabalhando o nosso coração, as atitudes externas nunca são o centro da
nossa atenção. Atitudes visíveis são o resultado natural de algo profundo, bem
mais profundo.
A máxima do
patriarca Actio “as atitudes seguem a essência” nos lembra que a nossa atitude
está sempre em acordo com a realidade interna do nosso coração. Isto,
naturalmente, não reduz as boas obras à insignificância, mas as tornam questões
secundárias; efeitos, não causas. O significado principal é a nossa união vital
com Deus, nossa nova criação em Cristo, nossa imersão no Espírito Santo. É essa
vida que purifica o coração. Quando o ramo é perfeitamente unido à videira e
recebe a sua vida da videira, o fruto espiritual é natural.
Por isso é
que os filósofos éticos podiam dizer “a virtude é fácil”. Quando o coração está
purificado pela ação do Espírito a coisa mais natural do mundo é a virtude.
Para o puro de coração o vício é o que é difícil.
Não é uma
coisa vã para nós retornarmos ao primeiro amor. É um ato de fé para pedir a
Deus que sonde o nosso coração e nos tire de todo caminho mal (Salmos 139:
23,24). É um aspecto vital da salvação do Senhor.
Somos todos,
cada um e todos nós, uma massa de motivos emaranhados: esperança e medo, fé e
dúvidas, simplicidade e duplicidade, honestidade e falsidade, sinceridade e
falsidade. Deus é o único que pode separar o verdadeiro do falso, o único que
pode purificar as motivações do coração.
Mas Deus não
vem sem ser convidado. Se alguns compartimentos do nosso coração nunca
experimentaram o toque de cura de Deus, talvez seja porque não temos recebido bem
o minucioso exame divino.
O mais
importante, mais real e mais duradouro acontece nas profundezas do nosso
coração. Este é um trabalho solitário e interno. Não pode ser visto por pessoa
alguma, a não ser por nós mesmos. É um trabalho que somente Deus conhece. É o
trabalho de purificação do coração, a conversão da alma, da transformação interior,
da formação da vida.
Começa
primeiro com nosso retorno à luz de Jesus. Para alguns, este é um inescrutável
e lento voltar-se... voltar-se... até que nos voltemos completamente. Para
outros é instantâneo e glorioso. Em ambos os casos nós estamos começando a confiar
em Jesus, para aceitá-Lo como sendo a nossa Vida. Assim lemos sobre isso em
João 3, somos nascidos do Céu. Nascer espiritualmente é um começo – um
maravilhoso e glorioso começo. E não um final.
O trabalho de
formação mais intenso é necessário antes de nos colocarmos diante do brilho do
Céu. É necessário muito treinamento para sermos o tipo de pessoa segura e reinar tranquilamente com Deus.
Então, agora
nós damos início a esse novo relacionamento. Como Pedro coloca em sua primeira
carta, nós “temos nascido de novo, não de uma semente perecível, mas
imperecível, vivendo e permanecendo na Palavra de Deus” (I Pedro 1: 23). Deus
está vivo! Jesus é real e atuante em nossas pequenas vidas.
E então nós
começamos a orar, para entrar numa comunicação interativa com Deus. No
principio nossa oração é intranquila e hesitante. É uma alternação da nossa ida
e volta, de nossa preocupação com a glória divina e com as tarefas mundanas de
casa e do trabalho. Para trás e para frente. Para trás e para frente. E, frequentemente, a alternância é pior – muito pior – do que absolutamente não
orar. Num momento nos são reveladas glorias divinas, no momento seguinte nossas
mentes estão chafurdando na concupiscência da base dos nossos desejos.
Nossas vidas
são fraturadas e fragmentadas. Como Thomas Keely coloca, nós estamos vivendo em
“uma luta intolerável de agitação”. Nós sentimos a força de atração de muitas
obrigações e tentamos cumpri-las todas. E estamos “infelizes, intranquilos,
extenuados, oprimidos e tememos fracassar”. Mas, através do tempo e da
experiência – às vezes muito tempo e muita experiência - Deus começa a nos dar
um sossego surpreendente no Centro Divino. Nas profundezas do nosso ser, a
alternância nos dá uma vida coesa intacta, de humilde adoração diante da viva
presença de Deus.
Não se trata
de êxtase, mas de serenidade, sem abalos, e firmeza de orientação da vida. Nas
palavras de George Fox, nós nos tornamos homens e mulheres “estáveis”.
Nós começamos
a desenvolver um hábito de orientação divina. Agora, isto não é perfeccionismo,
mas o progresso de nossa vida com Deus. O trabalho interior da oração torna-se
muito mais simples agora. Lentamente descobrimos pequenos reflexos de proteção
celeste e os sopros de submissão são tudo o que é preciso para nos atrair para
uma orientação habitual de nossos corações voltados para Deus. Mesmo sem saber
nós nos habituamos com a presença de Deus. Momentos formais de oração nos ligam
e aumentam a tendência de estabilidade de adoração tranqüila, que é a base dos
nossos dias.
Por trás do
primeiro plano da vida diária permanece a bagagem da orientação celestial. Esta
é a formação de um coração diante de Deus. Para usar as palavras de Kelly, é
“uma vida despreocupada de paz e poder. É simples. É sereno. É espantoso. É
triunfante. É radiante. Não toma tempo algum, mas ocupa todo o nosso tempo”.
Como os
novatos em Jesus estamos aprendendo, sempre aprendendo como viver bem; a amar a
Deus bem; a amar nosso cônjuge bem; a criar nossos filhos bem; a amar nossos
amigos e vizinhos – e até mesmo os nossos inimigos – bem. A estudar bem; a
enfrentar as adversidades bem; a administrar nossos negócios e instituições
financeiras bem; a formar uma vida em comunidade bem; a alcançar os marginalizados
bem; e a morrer bem.
E, enquanto
aprendemos como viver bem, compartilhamos com outros o que estamos aprendendo.
Esta é a estrutura do amor para edificar o corpo de Cristo.
Nós não
estamos sozinhos neste trabalho de reforma do coração. É imperativo que nos
ajudemos uns aos outros de todas as maneiras que pudermos. E, em nossos dias,
temos emergência de um exército espiritual sólido de guias espirituais
treinados, que possam amorosamente estar lado a lado de pessoas preciosas, e
ajudá-las a discernir como andar pela fé nas circunstâncias de suas próprias
vidas.
Por favor,
note que eu disse guias espirituais “treinados” e não guias espirituais
“diplomados”.
Há uma idéia
genuinamente ruim circulando nestes dias que, se nós tivermos um determinado
numero de cursos e lermos um determinado numero de livros, estaremos prontos
para sermos guias espirituais. Eu lamento; eu realmente gostaria que fosse tão
simples assim. Mas não, nós estamos falando sobre treinamento de vida. E é
apenas pelo treinamento da vida que veremos o desenvolvimento de um certo tipo de
vida, uma vida de retidão, paz e alegria no Espírito Santo.
Isto é
qualidade de vida – a habilidade para perdoar quando se está machucado, o
desejo de orar –, o que estamos procurando nos guias espirituais treinados.
Temos uma
dificuldade real aqui porque cada um pensa em transformar o mundo, mas onde
estão aqueles que pensam em transformar a si mesmos? As pessoas podem
genuinamente querer serem boas, mas raramente estão preparadas para fazer o que
é necessário para produzir uma vida de bondade que possa transformar a alma. A
formação pessoal à imagem de Cristo é árdua e longa.
A
comunhão agregando poder – Isto
naturalmente leva à nossa segunda grande arena de trabalho para os anos
vindouros: renovação congregacional. Se em nossas igrejas nós não trabalhamos
arduamente pela formação espiritual, não conseguiremos pessoas espiritualmente
formadas. Então esta é uma arena de trabalho vital, e eu estou falando de das
congregações tradicionais e as recentes formas emergentes de nossa vida juntos.
No principio
é importante que vejamos o contexto no qual trabalhamos.
Primeiro, nós
temos em nossas igrejas a “doença da pressa”. Muitos do nosso povo são viciados
em adrenalina e, em toda parte o espírito de nossos dias é de pular, de
empurrar, de atropelar, de ruídos, de pressa e de multidões. Mas o trabalho de
formação espiritual simplesmente não acontece com pressa. Ele nunca é um
‘assunto rápido’. Paciência e cuidado com o tempo consumido são sempre as
marcas de qualidade do trabalho de formação espiritual.
Outra
situação contextual que enfrentamos é o fato de que agora temos uma indústria
de entretenimento cristão que é disfarçada como adoração. Como nós comparecemos
em reverência e temor diante do Santo de Israel, quando muitos de nossos cultos
são focados em diversão? Eu não sei a resposta, mas é claramente uma das
realidades de nossa vida congregacional.
Um terceiro
assunto: nós estamos lidando com uma mentalidade consumista em toda parte que,
simplesmente, domina o cenário religioso, pelo menos o norte-americano. É uma
mentalidade que mantém o individual à frente e no centro: “Eu quero o que
quero, quando quero e quanto quero”. Naturalmente o trabalho de formação nos
ensina a dar as costas para as nossas vontades e focar necessidades reais, como
a de anular o ego, tomar a nossa cruz e seguir arduamente Jesus.
Todas estas e
outras coisas mais, tornam o trabalho de formação espiritual em uma congregação
realmente complicado. Estou certo de que não tenho as respostas para essas
questões complicadas. Mas é maravilhoso saber que ter as respostas não é tarefa
nossa. Nossa tarefa é realizar o trabalho de formação espiritual, e fazer isto
em uma congregação já configurada.
Primeiro,
isto significa que queremos experiências profundas de comunhão através do poder
da formação espiritual. A igreja é reformada e sempre está se reformando. E, se
meu coração, alma, mente e espírito estão sendo reformados – se anseio conhecer
Jesus, seguir Jesus, servir Jesus, ser formado à semelhança de Jesus – então
sou poderosamente atraído na direção de quem e de todo aquele que está buscando
conhecer Jesus, seguir Jesus, servir a Jesus e ser formado à imagem de Jesus.
Uma pessoa cheia da beleza de Jesus tem comunhão adicionada ao poder. Outros
são irresistivelmente atraídos na direção desta pessoa.
Segundo,
vamos fazer tudo o que podemos para desenvolver a ecclesiola na Eclésia – “a pequena igreja
dentro da Igreja”. A ecclesiola
na Eclésia é um compromisso profundo com a vida do povo de Deus e não uma
maneira sectária. Nenhuma separação. Nenhuma exclusão. Nenhuma formação nova de
denominação ou igreja. Nós ficamos dentro das estruturas de igreja dadas e
desenvolvemos pequenos centros de luz dentro dessas estruturas. Então nós
deixamos a nossa luz brilhar!
Particularmente
três expressões históricas da ecclesiola
na Eclésia, valem a pena ser estudadas:
Philipp
Jakob Spener (1635–1705) no século XVII
A Alemanha e sua escola pietatis
Considerado o pai do Pietismo, Spener passou seus dias praticando e ensinando sobre a conversão do coração e a santificação da vida. Aqueles que o ouviam eram tão tocados por suas pregações, que queriam mais instruções, e perguntavam se ele seria bondoso o suficiente para atendê-los. Spener começou a defender a escola pietatis com aquelas pessoas ávidas para seguir Jesus, primeiro em sua casa, depois em outras casas e, então em prédios públicos e assim por diante, com a intenção de instruir pessoas que estavam ansiosas para aprender a viver uma vida santa.
Considerado o pai do Pietismo, Spener passou seus dias praticando e ensinando sobre a conversão do coração e a santificação da vida. Aqueles que o ouviam eram tão tocados por suas pregações, que queriam mais instruções, e perguntavam se ele seria bondoso o suficiente para atendê-los. Spener começou a defender a escola pietatis com aquelas pessoas ávidas para seguir Jesus, primeiro em sua casa, depois em outras casas e, então em prédios públicos e assim por diante, com a intenção de instruir pessoas que estavam ansiosas para aprender a viver uma vida santa.
John
Wesley (1703–1791) no século XVII
A Inglaterra e suas
sociedades, encontros de classes e coligações.
Estes encontros eram uma maneira de dar ordem e disciplina aos novos convertidos. As sociedades tinham o propósito de comunhão, os encontros de classes eram para tratar de responsabilidades e as coligações tinham o propósito de amor e confissão mútua de pecados.
Estes encontros eram uma maneira de dar ordem e disciplina aos novos convertidos. As sociedades tinham o propósito de comunhão, os encontros de classes eram para tratar de responsabilidades e as coligações tinham o propósito de amor e confissão mútua de pecados.
Hans
Nielsen Hauge (1771–1824) no século XIX
A Noruega e a “missão
interna”.
Houve um grande movimento de renovação na Noruega sob a liderança de Hauge, mas – e isto foi crucial – ele estimulava seus seguidores a permanecer na igreja Luterana da Noruega. Hauge os organizou em pequenas estruturas dentro daquelas igrejas e chamou seu trabalho de piedade e de formação de corações de “missão interna”.
Houve um grande movimento de renovação na Noruega sob a liderança de Hauge, mas – e isto foi crucial – ele estimulava seus seguidores a permanecer na igreja Luterana da Noruega. Hauge os organizou em pequenas estruturas dentro daquelas igrejas e chamou seu trabalho de piedade e de formação de corações de “missão interna”.
Esta ecclesiola na Eclésia,
este trabalho de formação espiritual, produz um certo tipo de comunhão, um
certo tipo de comunidade. Isto produz uma unidade de coração, alma e mente, um
vínculo que não pode ser quebrado – um milagre – abastecido de cuidado e
compartilhamento da vida juntos que nos levará a enfrentar as circunstâncias
mais difíceis.
E isto me
leva à minha terceira sugestão para a formação espiritual da congregação: que nós
aprendemos a sofrer juntos.
Eu creio que
o nosso tempo de sofrimento está chegando. Muitos fatores levarão a isso. Por
exemplo, a cultura geral de hostilidade para as coisas concernentes ao
cristianismo está crescendo. Não devemos ficar surpresos ou mesmo tentar mudar
isto. O que nós deveríamos estar fazendo é estar construindo uma vida
comunitária sólida para que, quando o sofrimento chegar, nós não estejamos
dispersos. Devemos ficar juntos, orar juntos e sofrer juntos independente do
que vamos enfrentar. Sofrer juntos pode ser um bom modo que Deus usa para um
novo ajuntamento do povo e Deus.
De
volta ao mundo –
Finalmente chegamos à discussão sobre a renovação cultural ou o que na teologia
é chamado de “mandato cultural”. Posso apenas sugerir aqui com o que isto se
parece.
Os mestres
religiosos escreveram muito sobre o treinamento do coração em duas direções
opostas: contemptus mundi,
rápido desprendimento das ligações e ambições, e amor mundi, nosso ser arremessado para uma
divina, porém dolorosa, compaixão pelo mundo.
No começo
Deus arranca o mundo de nossos corações – comtemptus
mundi. Aqui experimentamos um rompimento das correntes que nos
atraem para posições proeminentes e de poder. Todos os nossos desejos de
reconhecimento social, para ter nosso nome em evidência, começam a parecer
fracos e superficiais. Aprendemos a deixar todo o controle, toda a administração.
Nós vivemos livre e alegremente sem enganos.
E, então,
quando nos libertamos de tudo isso, Deus lança o mundo de volta ao nosso
coração – amor mundi –
onde nós e Deus, juntos, tomamos o mundo em infinita ternura e amor. Nós
aprofundamos a nossa compaixão pelos feridos, pelos arruinados, pelos
despossuídos.
Nós sofremos,
oramos e trabalhamos por outros de uma maneira diferente, de uma forma
abnegada, cheia de alegria. Nosso coração fica estendido em direção aos
marginalizados. Nosso coração fica voltado para todas as pessoas, para toda a
criação.
Foi o amor mundi que atirava
Patrick de volta à Irlanda para responder à sua pobreza espiritual. Foi o amor mundi que impulsionou
Francisco de Assis para o seu ministério mundial de compaixão por todas as pessoas,
por todos os animais, por toda a criação. Foi o que levou Elizabeth Fry às
portas do inferno da prisão de Newgate e induziu William Wilberforce a
trabalhar a sua vida inteira pela abolição do comércio escravo. Isto enviou
Padre Damião a viver, sofrer, e morrer entre os leprosos de Molokai e
impulsionou Madre Teresa a ministrar entre os mais pobres entre os pobres da
Índia e do mundo todo.
Richard J. Foster é autor de muitos livros, o mais recente é “Life With God”. Este artigo é uma versão condensada e editada de uma palestra dada em uma conferência pela ocasião do 30º Aniversário de “Celebration of Discipline” (Celebração da Disciplina).
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